
Não sei exatamente quando o espelho passou a fazer parte da vida da humanidade, talvez em histórias como esta ou a da sereia IARA, das bruxas dos contos de fadas, mas no momento em que isto aconteceu, este simples objeto adquiriu proporções que ultrapassam a futilidade.
Todos nós, num dado momento, tememos o espelho. Quando jovens, nem tanto, porém, com o passar dos anos, começamos a evitá-lo e, ao mesmo tempo, ainda que disfarçadamente, a sós, parecemos ter certa necessidade de mirá-lo...
A mitologia é mesmo muito curiosa e interessante. O tempo passou, o mundo mudou, e aqui estamos nós, numa complexa relação com o tal espelho. E esta complexidade não se restringe ao físico, à cultura do corpo e suas exigências. Acho que inconscientemente, vivemos alguns conflitos com outro espelho...Um suposto espelho que projeta o invisível de nossa intimidade, nossas frustrações, medos, que nos coloca frente a frente com o irreversível do que nos tornamos ao longo dos anos.
É complicado enxergar-se e reconhecer-se, sem de fato, compreender-se e admirar-se.
De certo há muito que se orgulhar, há grandes conquistas pessoais, sonhos realizados, até milagres... Mas, como talvez tenha tentado definir Fernando Pessoa:
De certo há muito que se orgulhar, há grandes conquistas pessoais, sonhos realizados, até milagres... Mas, como talvez tenha tentado definir Fernando Pessoa:
"Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim।
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem।
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou।
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre -
Esse rio sem fim. "
Entre mim e o que em mim...
Entre quem eu de fato sou, e entre as minhas muitas imagens refletidas no rio; entre minha alma e minha vida vivida... Entre esses muito “eus”, corre um rio sem fim...
Um rio de frustrações, de dúvidas, incoerências, coisas pela metade, e também um rio de sonhos! Muitos sonhos. O que acredito ainda faz o rio correr... O nosso espelho d’água.
Se projetamos nossa imagem e a definimos a partir das relações com as pessoas e circunstâncias, estes (as pessoas e as circunstâncias) supostamente tornam-se nossos espelhos, e nós, espelho dos outros. Pense bem: Nesses relacionamentos espelhados, nos mais variados sentidos, há que se considerar as possíveis distorções, exageros, supervalorizações. Qualquer imagem sofre variações quando passa pelo outro, pelas coisas, e provavelmente comprometerão a reprodução do “eu”.
A visão mais confiável seria, então, aquela que não se projeta, mas que se revela na viagem ao centro de si mesmo.
Entre mim e o que em mim...
Entre quem eu de fato sou, e entre as minhas muitas imagens refletidas no rio; entre minha alma e minha vida vivida... Entre esses muito “eus”, corre um rio sem fim...
Um rio de frustrações, de dúvidas, incoerências, coisas pela metade, e também um rio de sonhos! Muitos sonhos. O que acredito ainda faz o rio correr... O nosso espelho d’água.
Se projetamos nossa imagem e a definimos a partir das relações com as pessoas e circunstâncias, estes (as pessoas e as circunstâncias) supostamente tornam-se nossos espelhos, e nós, espelho dos outros. Pense bem: Nesses relacionamentos espelhados, nos mais variados sentidos, há que se considerar as possíveis distorções, exageros, supervalorizações. Qualquer imagem sofre variações quando passa pelo outro, pelas coisas, e provavelmente comprometerão a reprodução do “eu”.
A visão mais confiável seria, então, aquela que não se projeta, mas que se revela na viagem ao centro de si mesmo.
"Preocupe-se mais com a sua consciência do que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é,e a sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam, é problema deles." (Bob Marley)
Não é preciso ter uma história de vida perfeita, uma trajetória reta e sem imprevistos, nem tropeços, mas é bom ter consciência dos caminhos por onde já passamos, onde estamos e até onde pretendemos ir; sentir prazer e ver sentido em cada uma dessas etapas. Saber que o centro do universo não mora no nosso “umbigo” e que a vida e seus reflexos não se limitam a nós. Nossa vida não foi um acidente, por isso, somos mais do que o que nos mostra qualquer espelho.
Se conseguirmos considerar assim, tudo fica mais suave de se ver, e nossa imagem passa a ser refletida com inteireza, numa constante possibilidade de ver-se, rever-se, reverenciar-se e aperfeiçoar-se, em si, nos outros e em Deus.
Olho para o meu espelho e sei quem sou ereconheço minhas limitações.
Não me menosprezo, nem me ensoberbeço, apenas descanso na paz de amar a mim mesma e, assim, ser capaz de amar de verdade minha família, meus amigos, e até, de modo misterioso, aqueles com quem não convivo, mas que sofrem, têm fome (de todos os tipos), frio, e que podem cruzar fisicamente o meu caminho ou simplesmente ser parte do meu pensamento e de minha oração.
“Amar ao próximo com a si mesmo e a Deus, sobre todas as coisas”.