Há dias em que amanheço questionando tudo. Certa da minha ignorância sobre os mistérios da vida, mas, ainda assim, com uma série de pontos confusos, certezas passadas já não mais tão seguras e alicerçadas quanto antes, e teorias pessoais conflitantes sobre tudo o que parece não fazer sentido à luz da razão... Não há informação que baste.
Em outros dias, por circunstância da vida, amanheço com uma fé inabalável, daquela que remove montanhas. E, quando vejo, lá estou eu. Confiando como se nunca tivesse balançado. Provavelmente, um dia que apresente montanhas aparentemente intransponíveis, assuntos e compromissos que trazem incertezas, dificuldades, perdas, dores e medos.
Há também aqueles dias em que nada parece incomodar. O mundo acontece, apesar de mim. Não tenho tempo para as teorias, e não questiono a fé e o sofrimento. A vida me atropela com seu stress e falsas prioridades; e eu me distraio tanto na organização da rotina, que sequer percebo que sou um ser pensante. Preciso cumprir as tarefas, e sigo atrás da lista do dia com afinco.
Deve haver outras versões para os meus dias, mas acho que estas, de modo resumido, conseguem traduzir meu humor e suas variáveis. Não me refiro a minha capacidade de fazer graça, ou ironizar, falo de humor no sentido de predisposição emocional. Em uma das muitas definições, segundo o Aurelio (Dicionário), “humor é a disposição do espírito”.
Digamos, então, que o que estou tentando aqui compartilhar é que, dependendo da disposição diária das minhas emoções, o meu olhar de compreensão sobre fé, Deus, e seus derivados sofre alteração ou não existe.
Você está chocado? Eu também. Mas a verdade é que quanto mais o tempo passa e - digamos - vou amadurecendo, mais movimentadas têm sido as escalas e os acordes dessas inquietações pessoais, portanto, mais variadas as melodias dos dias...
Enfim, tenho me permitido.
Já houve um tempo em que simplesmente experimentava os costumes e aprendia os conceitos da minha comunidade eclesiástica. Isto foi lindo e valioso. Mas, agora (e olha que não é tão agora assim... Faz tempo!), diante da inevitável aculturação dos nossos filhos no caminho desta herança, e de nossas próprias experiências individuais nos relacionamentos, das descobertas pessoais profundas (fruto de verdadeiras cruzadas por dentro de nossas emoções a caminho de uma inteligência já não mais só intelectual, e também emocional); diante de tudo isto, estou me permitindo um exame de visão. Uma revisão sobre tudo que já olhei, e um novo olhar sobre o que tenho visto.
Acredito que vivendo assim, transparentemente dia-a-dia, consigo estar mais segura do meu olhar sobre os diferentes aspectos da vida, e também mais pronta para viver com “bom” humor, para aprender com os erros e acertos, com as experiências de meus filhos, com todos os que amo, e com qualquer pessoa que caminhar comigo.
Não creio que este momento me levará para algum outro lugar que não seja perto de Deus. Aliás, nada pode me separar de mim mesma, logo, nada pode me levar para longe do que já habita em mim.
“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Livro de Romanos, cap 8, vers 35).
Disto estou certa, portanto, prossigo sem culpas. Mais vale a transparência que a aparência.
Só não não vale fechar os olhos. Cada dia, um novo olhar sobre Deus, sobre os mistérios, o sobrenatural... Um olhar diferente sobre a vida. Mas sempre algum olhar.
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Se você estiver disposto hoje. Eu o encorajo a ler todo este trecho da Bíblia Sagrada: Livro de Romanos, cap 8, pelo menos do verso 16 ao 39.