terça-feira, novembro 23, 2010

À minha Mãe de Leite...


Certas pessoas, quando vão embora, levam um pedacinho de nós.
E, assim, a gente vai ficando desbotada, desbotada, até sumir de vez.
Mesmo que eu me esforce para traduzir, por exemplo, para meus filhos, certos momentos da minha infância, não será possível uma impressão fiel em intensidade e valor. Recordar só é viver para quem fez parte e dividiu aquele momento da história com a gente.
Mas, ainda assim, acho que é importante contar às gerações vindouras as nossas histórias e seus personagens. Trechos alegres, tristes, de sucessos ou não, há que se contar com fervor, com um coração apaixonado e apaixonante, imbuído da emoção que couber. Porque se quem eu fui e sou já não me seduz, não o fará com mais ninguém!
Influenciar pessoas e ser por elas influenciados é, de certo modo, uma tentativa de eternizar-se.
Nada é garantido, mas fica o desejo e a emoção, um dia, compartilhada. Já é alguma coisa.
Maria, muito obrigada! Fui muito feliz enquanto sonhava correndo em sua varanda que mais parecia o mundo!

segunda-feira, novembro 01, 2010

Eleições encerradas. Esperança não.

Como a esperança é conhecida como a última a morrer, ela ainda existe e persistirá por muito tempo...

Mas é inevitavelmente melancólico o dia seguinte de um povo que se esforçou em sua rotina de trabalhador para cumprir uma obrigação absurda do voto que pode muito e, ao mesmo tempo, pode nada. Bom seria se optássemos votar por ser direito de fato, e assim desejássemos simplesmente porque o que se apresenta diante de nós justifica o esforço e seduz cidadãos comuns.

Seja como for, a nação não amanheceu empolgada. Em São Paulo, o dia ajudou ficando cinza.

A grande verdade é que não amanheceria mesmo diferente, qualquer que fosse o resultado das eleições. A escolha era mesmo “de Sofia”(1), só que meio invertida em sentimentos e motivações.

Sabem de uma coisa? Hamlet (2) estava certo. There are more things in heaven and earth, Horatio, Than are dreamt of in your philosophy.” Ou seja, há mais coisas no céu e na terra do que sonhamos em nossa filosofia humana. Por isso, sofremos tanto. Gastamos energia tentando mudar aquilo que já está pronto, cujos detalhes desconhecemos (mas não ignoramos, não somos assim tão ingênuos. Apenas ainda românticos) e cujos relatos já foram maquiados, por mais feios ainda pareçam.

Sem dúvida, é lamentável amanhecer com essa sensação de que nada mudou, de que as nossas escolhas são limitadas e inexpressivas, e que devemos estar prontos para colher frutos que não semeamos, a custas de interesses que não nos agradam, e com os quais não comprometemos nossos sonhos e esforços.

Passados os dias, a gente vai se erguendo, aos poucos, construindo novos objetivos, descobrindo aqueles que caminham com a mesma chama no coração, e se envolvendo com o que vale a pena, para recarregar a energia e aplicá-la no projeto de vida, de talvez muitas vidas... É preciso ter fé.

Assim foi, e assim será. A história nos dá uma vaga idéia disso.

O que vai sempre restar, além da esperança, é que cuidemos de nós mesmos.

Nossos lares podem ser o estopim do sonho coletivo de um mundo melhor. Devemos procurar lembrar que somos todos candidatos a seres humanos de valor, e que nossa plataforma é escrita e reescrita o tempo todo. Se tivermos filhos, mais cuidado devemos ter, pois haverá maiores chances e mais esperança. É a única opção prática e possível, bem no alcance de nossas mãos.

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(1)A Escolha de Sofia” (Sophia’s Choice) - Romance de William Styron que conta a história do dilema de "Sofia", uma mãe polonesa, filha de pai anti-semita, presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra, e que é forçada por um soldado nazista a escolher um de seus dois filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher um, ambos seriam mortos.

(2) Personagem de W. Shakespeare, da peça com o mesmo nome Hamlet (fala encontrada no

Envelhecer é diferente de apodrecer

Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem? (Confúcio) Eu, com certeza, seria velha, em qualquer momento. Devo ter na...