quarta-feira, agosto 24, 2011

Por Um Mundo Melhor


A marginalidade não é mais um “assunto” a se discutir, mas um movimento contra o qual precisamos lutar; tornou-se um segmento da sociedade, um partido filosófico de atuação rebelde, arbitrária e sanguinária que envolve a própria comunidade de berço em sua defesa e cobertura, mesmo que de modo acuado.
Alguns bairros das grandes cidades, dependendo da proximidade com estas comunidades marginais, transformam-se em “quintal” de indivíduo criminosos, de seus filhos e discípulos. Pasmemo-nos, mas as crianças das chamadas favelas se “inspiram” nesses anti-heróis por seus feitos e, enquanto brincam neste enorme quintal, desafiam-se e ousam pequenas abordagens ou mesmo se planejam em grupo (tipo arrastões) para jogar polícia e ladrão de um modo bem mais realista e emocionante. É uma grande brincadeira que põe em risco milhares de vidas de trabalhadores, pais, mães e crianças indefesas, criadas com outro tipo de brincadeiras, as do tipo realidade virtual.
A questão é muito mais complexa do que podemos imaginar.
A ideia de que o indivíduo bandido era fruto de condições desfavoráveis de vida foi-se pelo ralo social... Já era! Isso não mais existe em proporções que justifiquem esforço e investimento financeiro nas bases familiares. Sem dúvida há que se prestar constante atenção aos problemas com infraestrutura dentro dessas comunidades, mas isto tem a ver com direito do cidadão, com saúde e higiene; porém não justifica mais argumentarmos que uma vez que os cidadãos moradores dessas áreas forem assistidos com respeito e qualidade de vida, teremos impacto proporcional na diminuição de pequenos delinquentes! A coisa é justamente oposta! A permissividade, o acesso fácil a bens materiais sem fortalecimento de valores, a lei do pouco esforço, nenhum estudo, tudo isto e muito mais aliados aos maus exemplos (inclusive de governantes), às leis incoerentes e à evidente impunidade, acaba construindo um império de marginalidade.
A criança não nasce um bandido, mas vai crescendo um dentro dela. Ela vai praticando furtos não mais para obter o que precisa por ser pobre, mas sim porque é assim que se faz. Porque muito provavelmente ela tem tudo, mesmo não tendo nada. Acreditem: dentro de suas casas nessas comunidades, os moradores têm eletrodomésticos, jogos, computadores, e uma enorme lista de itens que muitos de nós talvez ainda não tenhamos tido oportunidade de adquirir com todo trabalho suado e dedicação pessoal! Essas aquisições provavelmente foram oferecidas pelo crédito fácil ou pelo furto dos mais velhos, mas fato é que o adolescente e as crianças já não lutam mais para conquistar coisas, eles roubam, simplesmente porque é assim que se faz, é assim que se divertem, e o fazem com tranquilidade porque não há lei que os obrigue a se submeterem a outro tipo de ocupação, nem mesmo uma lei que os intimide ou penalize!
Mas não é somente o bandido e o acesso às drogas que cooperam para a proliferação desse tipo de crianças-infratoras e já pequenos marginais. As famílias, a mamãe que dá tudo, as compensações sem regras, as instituições de portas abertas, mas sem uma missão clara e compromisso dos envolvidos com os conceitos e não apenas distribuição descontrolada de doações, etc. Não podemos ficar sempre dando o peixe, precisamos ensinar a pescar. De verdade. Devo deixar aqui também claro que estou considerando uma parcela razoável de organizações não admiráveis, mas sei que algumas iniciativas desenvolvem trabalhos maravilhosos e de valor, portanto, são dignas do meu reconhecimento.
Eu sei que é muito complicado, mas a compreensão do problema precisa ir sendo decifrada aos poucos por todos nós para que possamos investir melhor nossas considerações, o investimento de nosso tempo, dinheiro e outros recursos. Mesmo sendo um trabalho longo e de formiguinha, há que se estar seguro e engajado. Obviamente muitos de nós não iremos usufruir dos resultados, de repente nem mesmo nossos filhos chegaram a colher os frutos de nosso esforço, mas as ações de hoje precisam estar pautadas em uma reflexão mais profunda, sobre prisma e pontos de vista corretos, ou pelo menos o mais próximo possível do realmente necessário e eficaz. Quanto não temos colhido no mundo fruto, por exemplo, do sonho desenfreado, mas engajado da geração Hippie! Parece louco isso, mas proteger o planeta não é filosofia de agora! Agora, usufruímos de uma consciência elitizada da causa, mas, gostemos ou não, nasceu no movimento hippie!
As manifestações coletivas, os abaixo-assinados, todas essas coisas são de grande valor, e quanto mais gente engajada, maior a contribuição. e a chance de obter-se comprometimento das autoridades, sem dúvida, aumenta; mas precisamos também, de uma vez por todas, entender o conceito de transformação da sociedade pela atitude individual. A minha oportunidade de fazer diferença e impactar em mudanças não está somente nessas grandes manifestações, mas também e talvez principalmente nas minhas ações e reações pontuais. A minha chance de fazer discípulos pode ser uma forte concorrência para a marginalidade, portanto, seria bom que prestássemos atenção como aproveitamos as situações para compartilhar valores, como tratamos as pessoas e como educamos nossos filhos neste sentido. A minha funcionária em casa, por exemplo, pode ser mais do que alguém que me serve na logística, na correria e nas mordomias, ela pode ser a pessoa com quem desenvolvo um relacionamento saudável e carinhoso, mas não porque faço doações com o que não me serve mais, e sim porque aproveito para ajuda-la a compreender valores, ensino coisas relevantes, e até posso influenciar suavemente as decisões e atitudes dela com sua família, promovendo, assim, uma grande corrente do bem.
Mas tudo isso tem que ser mais que teórico. Se o objetivo é vencer uma guerra. não pode haver superficialidade. A nossa maior arma será sempre a combinação do que cremos, como agimos e contra quem lutamos.
Há que se reconstruir o ser humano, não só o marginal. E a nossa guerra é muito mais do que lutar contra esses indivíduos, é talvez uma batalha contra o invisível, mas que eu acredito se revelará quando se movimentar em meio a uma luz gerada pela multidão de gente com boa intenção, boa ação e fé.

Envelhecer é diferente de apodrecer

Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem? (Confúcio) Eu, com certeza, seria velha, em qualquer momento. Devo ter na...