terça-feira, maio 25, 2010

Programe-se, Grande Irmão!


Fico me perguntando o que leva pessoas razoavelmente esclarecidas a gastarem tanto de seu tempo assistindo a reality shows. Alguns dos modelos conhecidos até exigem dos participantes certo esforço, treinamento e preparação física para atingirem objetivos mensuráveis e talvez possam justificar os resultados e premiações (HIPERTENSÃO é um bom exemplo); mas outros - sinceramente - subestimam meu intelecto, meus valores e minha capacidade e disposição para investir meu tempo disponível com “diversão” do gênero

Os pouco fanáticos que me perdoem, mas, para isso, alienação é fundamental!

Será quanto da audiência do reality show conhece o Big Brother (personagem que inspirou o nome do programa), por exemplo?
O livro de George Orwell (1984) foi um marco na literatura de ficção, e tratava de questões nada divertidas. A intenção de Orwell foi descrever um futuro baseado nos absurdos do presente - ano de 1948 - e o título foi invertido para 1984 por pressão dos editores (dizem alguns estudiosos).
Na história de Orwell, o personagem central, Winston, escreve clandestinamente um diário, na tentativa angustiante de conscientizar os menos esclarecidos ou abastados e, um dia, conseguir denunciar toda a opressão do “Grande Irmão”. E a primeira frase que Winston escreve era justificável e é bem atual: Abaixo o Big Brother!

Estamos falando de uma crítica ao Stalinismo e ao Nazismo, a toda nivelação da sociedade, do indivíduo; eu diria uma hipérbole da história e dos personagens para evidenciar o quanto eram peças nas mãos do estado e do mercado através do controle total de suas mentes e vida, até na redução do idioma que deveriam falar.

Fala sério, pessoal!
Somos os “Grandes Irmãos” ao contrário! Vigiamos a casa, mas é a casa que influencia a nossa vida! Isto também não é saudável!

Obviamente não sou a favor de nenhum tipo de manipulação, seja ela cultural, religiosa, comportamental, etc. As diferenças e as escolhas pessoais devem ser, no mínimo, respeitadas e permitidas, mas isto é algo que acontece naturalmente, sem provocação de popularidade, supervalorização, nem “endeusamento” dos arquétipos, por piores que sejam.
É muito importante que meu filho aprenda a conviver indiscriminadamente com baixos, altos, gordos, magros, negros, brancos, carecas, cabeludos, homossexuais, heteros, radicais, flexíveis, etc., mas que isto seja aprendido em casa ou na sociedade, pelo exemplo dado, pela convivência justa e genuína, pelas oportunidades iguais, e pelo que eu mesma faço com o próximo, e não porque fica horas diante de uma programação de TV, assistindo intrigas e intimidades de egos adultos inflados que buscam fama e dinheiro fácil (convenhamos, não é difícil!), e que são incentivados a exposição de sua libido, de seu desequilíbrio emocional e de sua capacidade de “infernizar” ou sair ileso do inferno da convivência com diferentes. (Que no fundo, literalmente no fundo, são iguais.) Não deveria, mas assim tem sido.

Em minha opinião, isto é um desperdício de tempo e recurso da emissora. Mas, fatalmente, como não sou parte da audiência, não devo entender nada a respeito.
Mas entendo que é lamentável. Lamentável nos darmos conta de que o que resta de interessante na vida de tanta gente seja realmente um paredão! Ou que para os menos obcecados seja divertido e relaxante ouvir tanta “baboseira”. Desculpem o termo, mas é de fato muito descartável tudo que circula nos diálogos e conflitos dos participantes e da programação. Digo isto porque já tive a autodisciplina de portar-me e assistir alguns “capítulos”.

Sabe de uma coisa? Eu proponho a Revolução dos Bichos! Já leram? Também é de George Orwell, e bastante interessante. O livro é uma alegoria rica, de metáforas preciosas. Garanto que é divertido, interessante, e reflexivo.

Na verdade mesmo, gostaria de propor muito mais do que isso, contudo acho que seria uma proposta trabalhosa e cheia de falhas, porque tenderia a sugerir coisas que tem a ver comigo, com minhas escolhas e convicções. Mas talvez valesse a pena um esforço mínimo de cada um para buscar aquele pedacinho nosso que pode melhorar nós mesmos, o outro, os nossos, a casa, a vida, o mundo! A gente fala o que pensa, e pensa sobre o que vê, lê e conhece. Quanto mais eu me envolver com coisas boas e enriquecedoras, melhores serão minhas relações, minhas conversas, e minha troca de conhecimento. Estas coisas edificam, ou seja, constroem relacionamentos sustentáveis e de valor.

Se você ainda não é fanático, aceite meu convite e tente redirecionar sua escolha na hora de relaxar diante da TV. É um exercício de aprendizado e novas descobertas tanto na programação, quanto nas opções em casa. Eu reconheço que as notícias e os documentários muitas vezes nos deixam “pra baixo”, mas, ainda assim, a gente pode investir melhor o nosso tempo. É mais ou menos como pensar no que você faz quando falta energia. E então? O que você faz? Vai dormir?! Então vá! As vezes é melhor mesmo! Aproveite, e siga o conselho da canção de Beto Guedes:

Sim, todo amor é sagrado
e o fruto do trabalho
é mais que sagrado,
meu amor
A massa que faz o pão
vale a luz do seu suor,
lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizonte
o tempo acordado de viver."

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