Ouço pessoas se referirem à sua opção religiosa como quem escolhe
um partido político que mais atende às suas reivindicações, como quem encontra um imóvel que se adapte às
suas necessidades, uma filosofia de vida que possa responder suas questões existenciais ou
trazer aparente conforto para o implacável sofrimento nas tempestades da vida. Qualquer que seja a
característica desta escolha, eu acredito que existe uma grande chance de ainda
não ter sido um encontro com Deus.
É
certo que um encontro com Deus vai me levar ao próximo. A comunhão é uma
consequência natural do encontro com Deus: “Para que todos sejam um, como tu, ó
Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo
creia que tu me enviaste.” (João 17:21). Mas a comunhão não preconiza fenômenos
religiosos, e sim uma transformação perceptível de pessoas como gente, cidadão, e sociedade.
Um
encontro com Deus não explica os desígnios aparentemente insuportáveis, não requer
sacrifícios, protocolos, nem dogmas; um encontro com Deus, no máximo, vai
trazer reverência e deslumbramento. Um encontro com Deus não me livra de nada, e
nem sempre me oferece respostas, mas me fortalece e surpreendentemente me faz
feliz, apesar das circunstâncias.
Um
encontro com Deus é inevitavelmente arrebatador. Geralmente não há como
explicar e também muito pouco pra se entender, mas talvez seja como encontrar
uma fonte de energia recarregável, como voltar pra casa depois da guerra, como
correr para os braços do pai, como
sentir na face o calor do corpo do bebê que acabou de nascer... Tem o poder do
colo da mãe quando o machucado está doendo, a sensação da caverna em meio à
avalanche, e o sabor de um copo d’água
para o sedento. É a nuvem no deserto do dia, e o clarão do luar no deserto da
noite...