Ao se construir uma família, há
que se ter em conta um milagre. Não daqueles mega acontecimentos, do tipo que
se torna notícia, mas o miraculoso efeito das coisas simples da vida; o milagre
que acontece todos os dias quando alguém acredita em si mesmo, no outro,
naqueles a quem ama, e naquilo que dá sentido a sua vida, o motor diário que
faz a engrenagem da vida rodar, a sua fé, na vida e no que virá – como diz o poeta (*)
O milagre da família é fruto de
quem acredita na convivência dos diferentes que se amam, que apostam suas
fichas num investimento diário e flexível de seu tempo, paciência, economias,
projetos; o milagre que acontece quando há uma vontade de fazer dar certo! O
milagre que acontece quando há perdão, quando há recomeço (mesmo que quase
diariamente).
Ao se construir uma família, há
que se deixar contaminar pelo sonho de todos, e usufruir do grande milagre que
é poder assistir a própria família ir nascendo, crescendo e acontecendo... Entre vitórias,
abatimentos, perdas e ganhos.
Meu pai tinha essa perspectiva
milagrosa de vida, a mesma do sábio do Eclesiastes....
“Deus marcou o tempo certo para
cada coisa. Ele nos deu o desejo de entender as coisas que já aconteceram e as
que ainda vão acontecer, porém não nos deixa compreender completamente o que
ele faz. Então entendi que nesta vida tudo o que a pessoa pode fazer é procurar
ser feliz e viver o melhor que puder. Todos nós devemos comer e beber e
aproveitar bem aquilo que ganhamos com o nosso trabalho. Isso é um presente de
Deus.”
(Eclesiastes 3:11-13)
Eu sou um dos pequenos milagres
do meu papai... Um dos que ele acreditou e apostou suas fichas.
Com ele, conheci a música, o “tico-tico
cá, tico-tico lá...Tico-tico que comia meu fubá...” E, nesse ritmo, aprendi que
trabalhar cantando tornava o cansaço mais leve, e o trabalho mais
divertido.
Com ele, aprendi a fazer massas
de cimento, pedra e areia pra rebocar a parede da nossa casa; aprendi a sempre
oferecer um sorriso aos que cruzavam o meu caminho... E, com ele,
entendi que Deus era alguém capaz de me surpreender e emocionar muito, mesmo
numa simples oração... Ele repetidas vezes, se emocionava ao orar, e ao falar
das coisas que Deus lhe havia proporcionado...
Meu pai acreditava em milagres,
e esperava por eles com paciência e fé, e isto lhe dava a força de um
Leão. E foi assim que ele
provavelmente conseguiu chegar até aqui, no fim da linha imaginária entre terra
e céu.
Louvo a Deus pelo milagre da
vida do meu pai, e do legado espiritual, emocional e de ética que nos deixa.
Meu pai já não mora mais aqui.
Ele agora mora dentro de mim, e em todo lugar! Meu pai explodiu em amor e
rompeu as barreiras limitantes da vida para finalmente experimentar o que não
nos é possível enxergar com olhos humanos! Meu pai transcendeu. Meu pai voltou pra casa!
Obrigada, Deus, pelo meu "ticacáqui", pelo meu
Racnela...
Te amaremos eternamente, Pai!
(*) "Semente do Amanhã" (Gonzaguinha)