Estamos praticamente há um ano imersos numa realidade insegura,
desconfortável e trágica - a pandemia do COVID19.
Como sempre, quero deixar aqui registrado que não sou médica
ou especialista no assunto, jornalista,
não tenho informações privilegiadas a respeito de nada. Minha reflexão e meu
modo de analisar a situação é de uma cidadã como qualquer outra.
Uma coisa é clara: a pandemia está aí, pessoas morreram e
seguem morrendo; muitas ainda internadas, outras foram acometidas e
contaminaram seus familiares de grupo de risco. Alguns testaram positivo, mas
seguem assintomáticos, muitos não conseguiram sequer testar, e um monte de
gente segue distribuindo vírus pelo mundo.Um vírus que tem características
similares a outros, mas que também tem peculiaridades biológicas desconhecidas.
Bom, não há dúvida de que precisamos de isolamento, distanciamento e outros protocolos já devidamente implementados . Mas, ainda assim, enfrentamos o velho conhecido padrão da ignorância humana - aqui em sentido latu senso, ou seja, aqueles que ignoram porque desconhecem a dimensão e idiossincrasias da doença e do contágio, e os que são imbecis mesmo, porque escolhem não dar a atenção devida a algo tão sério.
Sim, eu sei que o cenário econômico pode tornar-se
insustentável, que as pessoas precisam
pelo menos comer, dormir e sobreviver. Mas quero dizer que não acredito que
seja o comportamento de quem precisa
comer que está distribuindo livre e faceiramente o vírus por aí. Não são os trabalhadores que se sacrificam todos os
dias (na inevitável labuta do que “não pode parar”) os únicos responsáveis e
que deveriam se isolar. Obviamente existe a possibilidade de que sim muitos
ainda estejam transmitindo e sendo infectados, mas a grande maioria deles não
ignora os protocolos, pois são monitorados por seus empregadores, e não
costumam ser poupados na hora de uma advertência, ou penalização pior - caso
sejam flagrados ou denunciados.
O isolamento implica em ônus pesados, mas, nesse caso,
implica em um bônus inestimável - vidas!
Crises, angústias, crianças irritadas e muitos outros
sintomas frutos desse momento tão delicado são inevitáveis, e exigem muito da
gente sim, exigem equilíbrio, responsabilidade, empatia. Mas vocês já pararam pra
pensar se estivéssemos em guerra? E será que não poderíamos considerar que
estamos?
Sabe aqueles filmes ambientados na época das Guerras que
você gostou de assistir? Volta lá e assiste de novo, com um novo olhar,
prestando atenção nos detalhes sócio comportamentais.
Geralmente nesses filmes, e nas guerras de embate físico, o inimigo tem rosto, tem arma e caráter - mau caráter, mas ele tem. Perceba que nas guerras não se lida com meros protocolos apenas, mas com ordens, com medo, com sangue. As pessoas obedecem para garantir a vida. Geralmente existe um toque de recolher; uma proibição, que pode custar sacrifícios horríveis, e que causarão os mesmos (ou piores) sintomas de que falamos - depressão, angústias, anos escolares interrompidos, etc.
No caso de uma pandemia, estamos em uma guerra de
perigos diversos, velados, porque não é só o vírus que é perigoso, as pessoas
são perigosas, porque são egoístas quando deveriam sacrificar seu churrasquinho
no final de semana, sua saída na nigh,
sua compra de supérfluos nos shoppings, e por aí vai.
Essa flexibilização que as pessoas estão tendo permissão para fazer , numa guerra, elas correriam risco de serem alvos imediatos, de serem visivelmente atingidas, e, por isso, talvez, temessem de verdade. Como se diz: o que os olhos não veem o coração não sente… A invisibilidade do vírus está contribuindo para uma falsa impressão de segurança. E mais: As pessoas assimilaram a máscara, o álcool em gel e o lavar as mãos em suas rotinas, mas o distanciamento e isolamento, podem esquecer! .Tenho a impressão que as pessoas acreditam que a máscara tem superpoder. A tradicional falta de educação em ceder a vez em espaços pequenos segue valendo.
Mas em tempo de guerra, a gente se refaz. O pós guerra sempre foi tempo de transformação. Econômica, social, pessoal. Basta revisitar a história.
Eu acho sim que este é um momento para ressignificar coisas, pessoas e valores; conhecer e peneirar necessidades e relacionamentos. Mesmo que lá na frente o
psicopata social ressurja, ainda assim, mudanças significativas acontecerão.
Hoje, a gente olha para o Holocausto com horror, mas ouso lhes
dizer que muitos de nós, se estivéssemos imersos naquela vibe de psiopatia
social da época, talvez considerássemos muito justo denunciar um vizinho que
protegia um judeu para tornar-se
responsável pela morte de uma pessoa, sem culpa, e ainda vaidoso de sua ação de
cidadania. Seguimos os mesmos, em momentos diferentes, de guerras diferentes
também.
Para que vocês reflitam junto comigo, quero usar aqui uma
frase da contracapa de uma das edições do livro A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS.:
“Quando a morte resolve contar uma história, vc tem que
parar pra ler.”
Será que a morte não estaria nos contando uma história?
Já são mais de 1 milhão e meio de mortos no mundo , até este
momento em que estou escrevendo,.
A gente tem que parar .