segunda-feira, novembro 28, 2011

Maternidade (Repostagem)


Não sei dizer se é uma experiência comum a todas as meninas, mas o meu “desejo de ser mãe” nasceu cedo.

Naquela época (quando ainda era criança), não adormecíamos em frente da TV, portanto, o tempo que meu sono demorava chegar era preenchido por minhas montagens imaginárias das mesmas cenas, noite após noite. Posso dizer que sonhava acordada até dormir. O mundo que desenhava em meus sonhos sempre passou pela casa cheia de filhos e amigos, pelo cheiro bom de comida sendo preparada, pelo jantar à mesa, pela conversa no sofá e por um quintal grande e com plantas. Claro que havia muita inspiração: as figuras de minha própria família - meus irmãos (de verdade, intensidade e cumplicidade), uma avó temperamental e adorável, um monte de parentes que traziam confusão e, paradoxalmente, também alegria; algumas figuras da vizinhança, do amplo grupo de amigos de meus pais, da igreja, etc.


Sonhava em ser “Maria”.

O tempo foi passando, a vida acontecendo, e eu fazendo aquelas coisas normais como estudar, brincar, namorar, terminar o namoro... O Vestibular, a faculdade, o primeiro emprego... Alegrias, atropelos, começos, fins e recomeços, ambição com foco errado, frustração, e o sonho de Maria ardendo em meu coração.
A idade avançava, muitas coisas aconteciam, a vida não perdoava as mancadas, batia forte, e doía, doía muito. As conseqüências das ansiedades do meu coração se faziam ver nas cabeçadas que dava. A família, os amigos - e alguns inimigos (todo mundo tem) – assistiam; mesmo porque, nessas coisa, não há muito o que se fazer... As escolhas são sempre nossas, certas ou erradas.
Um dia, depois de muito remar contra a maré, e achar que podia cuidar da minha própria vida, decidi “jogar a toalha”. Tomei atitudes práticas que evidenciassem a decisão da minha alma, que era básica e explicitamente dizer: “Deus, não vou mais lutar, nem confiar em meu próprio entendimento. Vou te dar a oportunidade real de me fazer feliz, reconstruir minha vida cumprindo a sua vontade e realizando meus sonhos.” Assim, para reescrever minha história, comecei mudando o “pano de fundo”: deixei o Rio de Janeiro e vim morar em São Paulo.

Enfim Deus abriu o céu e fez chover sobre minha vida, reforçando seu insondável amor, e presenteando-me com os sonhos do meu coração!

Contando assim, parece que foi tudo rapidinho, mas não foi não... Não foi mesmo!...
Embora não tenha sido "num passe de mágica", foi, de certo modo, "mágico"!

Casei-me, e dos compromissos resgatados por mim em minha união, Deus nos deu Vítor e Letícia. Vitória e Alegria!


O tempo continua passando, a vida segue acontecendo, e eu ainda faço coisas normais todos os dias, mas, de algum modo, sou “Maria Maria” - “uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer no planeta” (trecho música M.Nascimento/F.Brandt).


Justificando, então, o tema de minha reflexão, eis o que a maternidade me ensinou:

1. Primeiro de tudo, obviamente, aprendi a esperar.
O tempo nos proporciona uma releitura atenciosa da dor, das dificuldades e de nossos erros, mas todo esse aprendizado só é amadurecido e resgatado em nossa consciência quando o desejo é alcançado (“A esperança demorada enfraquece o coração, mas o desejo chegado é arvore de vida” - Provérbios 13:12);
2. A maternidade me revelou um novo DEUS. A nova perspectiva me fez entender melhor o relacionamento com o Deus que chamamos de “Pai de Amor”. Posso imaginar melhor, analogamente, porque Deus me ama apesar dos meus erros, porque é tolerante com minhas mancadas e tentativas frustradas... 
3. Aprendi sobre minha própria mãee com ela tenho tentado estabelecer uma relação mais terapêutica e menos complicada! Ser mãe de meus filhos me fez entender seus erros e acertos, e lidar melhor com as conseqüências de tudo isso na minha própria vida.
4. Aprendi sobre dependência. Vi que sozinha dependo de Deus, e não valorizo, mas, ao cuidar de uma vida que é pedaço de mim, diante de minha impotência humana, sou refém do amor, das misericórdias e do poder de Deus.
5. A oportunidade de ser mãe decididamente me ensinou sobre PERDÃO! Experimentar a maternidade foi como se Deus imprimisse em mim a certeza empírica de seu perdão. A verdade é que qualquer coisa que tivesse cara de uma vida arrumadinha e decente já me traria certa tranqüilidade, mas Deus fez mais que isso! Ele quis que eu soubesse e sentisse toda intensidade de seu perdão, ou seja, todos as lembranças que hoje recordo com lamento, Ele apagou, e fez questão de deixar isso claro nos detalhes da minha estrutura de vida!

Bom... A Lista seria longa... Mas talvez eu possa resumir dizendo que finalmente entendi parte da profecia de Jeremias 29: 11-14: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o SENHOR, e farei mudar a vossa sorte; (...)”

Por último, gostaria de compartilhar duas citações registradas por Brennan Manning em seu livro “O Impostor que Habita em Mim”:

Sem suas feridas, onde estaria o seu poder? É sua melancolia que faz sua voz baixa estremecer dentro do coração de homens e mulheres. Nem mesmo os próprios anjos conseguem convencer os filhos miseráveis e desajeitados na terra como consegue um ser humano quebrado pelas rodas do viver” (1)

Negamos a realidade do nosso pecado. Numa tentativa fútil de apagar o passado, privamos a comunidade do dom de curar que temos” (2)

Ler isso fez muito sentido para mim, por isso quero sempre poder escrever e, quando oportuno, falar sobre tudo o que tenho provado e vivido. Acho que Deus pode abençoar muita gente com minhas experiências, e oro para que Ele assim o faça. Sinto que foi para isso que Ele me criou. Para ser Maria e abençoar Marias e Josés a quem Ele também ama e quer ver feliz!

Por Beth Bittencourt

(1) Thornton Wilder, The Angel that Troubled the Water
(2) Brennan Manning, O Impostor que habita em Mim

2 comentários:

Paulo disse...

Apesar de estar oculto no seu texto, fico muito feliz por participar desta sua felicidade, parabéns pela mãe que vc é.
Te amo!!!
Paulo

Eliane de Freitas disse...

Betinha... te encontrei mais uma vez... teu texto é extremamente verdadeiro e tua forma de expor sentimentos enriqueçe e emociona. Eu, por meu lado, ando confusa com a mistura de emoções que a nova maternidade recém adquirida deixou e ainda misturo os sentimentos de maternidade e eternidade. beijos querida.

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