quinta-feira, junho 03, 2021

Manifestação 25M_Pandemia COVID19


 A convocação de manifestação contra o governo de Jair Bolsonaro em diversas cidades do país, no dia 29 de maio,  em meio a pandemia, me deixou muito apreensiva, mas, ao mesmo tempo, tenho que dizer que entendo a angústia desse grito engasgado .

Vejam vocês que situação delicada, e inevitável.

O que me deixa ainda mais angustiada não é só a aglomeração (embora tenha havido orientações explícitas dos organizadores a respeito da máscara, álcool e distanciamento, foi uma aglomeração); acontece que, além de estarmos quebrando um protocolo de comportamento, eu já antevia a manipulação de informações, os confrontos ideológicos, a “deixa” que gente cheia de ódio e sem disposição para argumentação de valor queria para tripudiar em cima de temas tão relevantes pelos quais temos lutado há pelo menos 3 anos.

Eu estou tão negativamente impactada pelos acontecimentos e pela postura de pessoas ao meu redor (longe e perto de mim), que já não acredito mais numa solução em curto ou médio prazo, e acho que a galera que foi para as ruas nessa manifestação está como eu: desesperada.

Olha, gente, é muito angustiante você reconhecer a legitimidade de um ato, no caso dessa manifestação, e sentir que a tiro vai sair pela culatra. Se não fosse a pandemia e meus riscos pessoais, eu estaria com certeza apoiando 100% o evento, porque de fato já passou da hora de algo ser feito a respeito de tudo que temos vivenciado como consequência da  péssima administração de crise no país, além da série de eventos criminosos que vem sendo propositadamente minimizados para blindar gente inescrupulosa, verdadeiros bandidos velados, escondidos atrás de uniformes sociais e religiosos. Isso é uma psicopatia.

Justamente por conta desse cenário que acabei de descrever é que me angustio, mas ainda acho que o tiro vai sair pela culatra.

Essa tem sido uma estratégia frequente desde o início - a campanha desse governo foi feita dessa forma, não há  muito o que ser feito. É aqui que eu me vejo frustrada, porque olho ao redor, ouço pessoas que poderiam estar fazendo diferença, e começo a pensar que não existe saída, gente.

Talvez por isso essas pessoas (as que estiveram no ato do dia 25) estejam colocando em risco o seu momento e de suas famílias,  para aliviar a garganta engasgada; e eu temo muito por todos que estiveram envolvidos na manifestação, mas, ao mesmo tempo, me sinto orgulhosa da iniciativa e da ira que os consome, porque sim, essa ira é um motor necessário para uma causa que tem a ver diretamente com a vida e seus valores mais legítimos.

Eu fiquei tão receosa a respeito do evento, que cheguei me manifestar  no perfil de um dos organizadores. Mas, depois, fiquei meditando: Qual seria, então, a minha melhor sugestão?  Seguir com o “rabo entre as pernas”, acuados, sendo dizimados diariamente, e esperando 2022 chegar sem qualquer garantia de que isso vai mudar?

Olhando para trás, desconheço mudanças significativas ocorridas na história que tenha sido desencadeada sem uma atitude radical. O equilíbrio é manutenção, pessoal. Equilíbrio é respiração, é disciplina, é ritmo. Aqui, não estamos mais falando de equilíbrio faz tempo! Não temos mais condições de estar equilibrados. Mudança e transformação de um estado ou de uma condição tem a ver com processo sim, mas, o virar da chave, o impulso, a decisão, nisso a gente precisa colocar força, coragem, ímpeto, é a hora de arriscar tudo, é pegar ou largar, e, infelizmente, muitas vezes, pagar um alto preço. Ou seja, não dá para manter-se isento, em cima do muro, e omisso. Ou a gente se junta e  empurra com força, ou tudo fica onde está.

Sempre que falamos de ajuntamento de pessoas, sempre que falamos de grupo, temos que considerar variedade, todo tipo de variedade. Então, obviamente que as pessoas envolvidas não são 100% aquelas que estiveram honrando o distanciamento social, seguindo os protocolos, e respeitando o luto de tantos brasileiros. Havia gente de todos os tipos, índoles, e seja lá o que for; mas também sei (porque conheço alguns) que, como eu, muitos dos manifestantes não suportam mais, e que a falta de luz no fim do túnel já está ficando desesperadora. Foi preciso fazer algo, porque as redes sociais e as panelas já estão ficando lotadas, e parece que não surtem efeito.

Eu admiro muita gente que abriu mão de sua segurança para me representar nesse grupo de manifestantes, porque entendo que eles estão se arriscando por um propósito maior, para pelo menos acender uma fagulha de esperança em meio a essa escuridão. Então, vou torcer para que as pessoas que com máscaras estiveram  presentes nas manifestações #forabolsonaro tenham a mesma sorte dos motoqueiros e fiéis escudeiros do pró-governo que o acompanham regularmente em suas celebrações, em meio a pandemia, sem propósito e sem máscara.

Aproveito, aqui, para lembrar os propósitos que nortearam as manifestações, ou seja, o motivo que levou tanta gente às ruas no sábado, dia 29 de maio:

  • Impeachment do presidente em exercício (que no caso nunca esteve em exercício, mas em espetáculo);
  • Volta do auxílio emergencial de  R$600 ;
  • Ampliação das vacinas disponíveis e organização decente da distribuição,
  • Fim da violência contra as minorias,
  • Suspensão de cortes de verbas na Educação, das privatizações e da reforma administrativa.

 Eu reconheço que foi um ato com muito risco envolvido, mas eu apoio a proposta, e compartilho o sentimento de urgência

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