terça-feira, janeiro 24, 2017

Com um pouco de açúcar até remédio é um prazer!... :)


Quando ouço alguém dizer que tem dificuldade para escrever, logo observo como se expressa ao falar. Daí, não é raro me deparar com gente falante, expressiva, e que diz não saber escrever bem. Ora, isto não faz muito sentido...
Expressar-se é um processo inato dos seres. Gesticular, Falar e escrever deveriam ser  frutos inevitáveis deste processo. Mas, como tudo afetado pela percepção e  altivez humana compromete o espírito da coisa, estes traços tornaram-se parte de um conjunto de características que acabou virando cilada, destacando a soberba, e semeando discriminação e xenofobia. Gente social e economicamente privilegiada exagera na aparência do vernáculo formal adquirido para tirar proveito daqueles a quem supõe-se  superior,  e camuflar sua insignificância e provável desvantagem intrínseca, circunstancial e, quiçá, essencial.
Quando a gente está  em fase escolar, tudo em nós ainda está em processo de formação e amadurecimento:  desenvolvimento cognitivo, psicológico, emocional, etc., e, ao longo deste período de formação, a gente ainda não tem um senso crítico experiente, não influenciável, e suficientemente aberto a doses saudáveis de questionamentos e mudanças; então, o processo de aprendizado se submete a regras e exceções.
         Há algum tempo, novas escolas (construtivistas e relacionadas), tentaram trazer um pouco de flexibilidade aos métodos de aprendizado, consoante à variedade de ritmo e tempo de aprendizado de cada indivíduo. Até funcionou; porém, aos poucos, muito da proposta pedagógica inicial acabou se diluindo em meio a um monte de conceitos e teorias criadas e adaptadas para manter o rendimento escolar padronizado, e os cofres dos colégios idem.
Um  vaticínio: O tempo é senhor da razão e seus efeitos, implacáveis.
A tecnologia disparou seus recursos encantadores, e uma explosão de escritores/blogueiros invadiu as redes; e os seus leitores já não se importam com detalhes gramaticais ( que para tanta gente compromete a espontaneidade da escrita); o que eles buscam é identificação, troca de conhecimento, consolo e aprendizado rápido, fácil e customizado. .  Como “a galera” não tem paciência para longas leituras, os fatídicos efeitos da implacabilidade do tempo e do frenético desenvolvimento tecnológico entraram em ação, e logo os blogs desceram de categoria. Não chegaram a ir para a zona de rebaixamento, mas perderam certa gama de seguidores para  YouTubers.  Contradizendo algumas previsões, por enquanto, os livros têm resistido bravamente, sem perder a posição de magia nas lojas, cabeceiras e estantes!  Diante disso, alguns  famosos debutantes da internet foram com tudo para o mercado da “literatura".  Bons escritores ou não (do ponto de vista das técnicas de redação), eles deram um jeito: contrataram assessores, digitadores,  fizeram boas parcerias, e deram a cara pra bater! E lá vão eles, nadando na onda do sucesso, e investindo para garantir a sobrevivência no cosmos cibernético e material.
Mas e quanto ao pessoal que segue padecendo em seus respectivos universos (corporativos, pessoais e acadêmicos) por medo do “bicho papão” do texto bem escrito, da apresentação bem feita que, por qualquer motivo, não rola?! Eu acredito que eles podem se superar, se nós suportarmos!
Qualquer limitação humana tende a piorar mediante observação e julgamento.  Considerando que expressar-se, num dado momento,  perdeu seu status de processo natural para morar no território da sofisticação humana, tornando a escrita e a retórica idiossincrasias passíveis de julgamentos e hierarquização, penso que poderíamos aplicar um esquema básico para tratar esta “dificuldade de desempenho”: liberdade (para errar), motivação (para arriscar), orientação (para se revelar) e reconhecimento (para se emocionar). Como? Dando espaço e criando uma atmosfera leve para que o indivíduo encontre e traga de dentro de si engenhosidades e talentos naturais adormecidos. Traduzindo: tem gente por aí que precisa voltar a rabiscar, e seus rabiscos precisam ser apreciados, porque, no fundo, devem ter seus muitos significados. Obviamente não me refiro à rabiscos literais, mas a todo tipo de manifestação expressiva que se apresente no andamento da rotina pessoal, social e profissional de cada um.
Julgar alguém por sua retórica, seu discurso rebuscado e eloquência é desprezar uma virtude das mais importantes: a verdade do ser.  Técnicas e regulamentos  não nos falam sobre as verdades de ninguém. Como li em algum lugar (por André Comte-Sponville),  esses pormenores são como ferramentas: podem revelar virtudes reais ou tragédias anunciadas. Exemplo: Uma faca nas mãos de um gourmet revela seu valor de modo diferente se nas mãos de um assassino. Assim é a eloquência, ou qualquer habilidade de persuasão; terá valores distintos ( da virtude à patifaria) conforme o sujeito e a situação. Imaginemos, por exemplo, um excelente advogado em defesa de um homem injustiçado, e um político corrupto em defesa de seus bens adquiridos por desvio de dinheiro público.  A eloquência e o vocabulário vasto – que são originalmente virtudes, não o serão em ambos os casos.
Há muito mais que se considerar em uma pessoa além  do seu discurso e sua gramática. Por este motivo, acho que valeria a pena um pouco de flexibilidade, e menos austeridade na perspectiva que formamos do “outro”. Possivelmente, em meio  aos seus rabiscos (escritos ou falados), este “outro” tenha muito a nos dizer; e pode valer a pena.
Diga-me: o que você quer? Estar certo, ou ser feliz? Tenho percebido que felicidade passa muito por nossas expectativas futuras, a respeito de tudo. Se eu considerar que o mundo ideal é o mundo em que eu vivo, e onde me construí (cultural, social, emocional e espiritualmente), quando esta realidade mudar (e VAI MUDAR!), minha frustração e inadequação, fatalmente farão de mim alguém infeliz.
Por isso, sejamos razoáveis.  Sigamos os conselhos da Babá mais adorável da história do cinema – Mary Poppins!
         “Todo trabalho que se faz
Pode se tornar uma distração
Você descobre e... Snap
É uma diversão
E assim a sua obrigação
Se torna um prazer
Daí! Assim! Eu passo a lhe dizer que
Com um pouco de açúcar
Até remédio é um prazer!
Remédio passa a ser, bom de paladar
Só um pouco de açúcar faz qualquer remédio ser
Bem gostoso de tomar

        
Ou você prefere ignorar que a língua culta e a falada na antiguidade (de onde se originou nosso idioma oficial)  não só não eram análogas, como fizeram-se muitas novas línguas ao longo da história, todas produto das inevitáveis interferências humanas?
Então... E você,  fala corretamente com base em que época?


Para quem nunca viu Mary Poppins, aqui está o link da canção e a letra original:

“In every job that must be done
There is an element of fun
You find the fun and snap
The job's a game
And every task you undertake
Becomes a piece of cake
A lark! I spree! it's very clear to see that
A spoonful of sugar helps the medicine go down
The medicine go down-wown
The medicine go down
Just a spoonful of sugar helps the medicine go down
In a most delightful way
A robin feathering his nest
Has very little time to rest
While gathering his bits of twine and twig
Though quite intent in his pursuit
He has a merry tune to toot
He knows a song will move the job along - for
A spoonful of sugar helps the medicine go down
The medicine go down-wown
The medicine go down
Just a spoonful of sugar helps the medicine go down
In a most delightful way
The honey bee that fetch the nectar
From the flowers to the comb
Never tire of ever buzzing to and fro
Because they take a little nip
From every flower that they sip
And hence (and hence)
They find (they find)
Their task is not a grind
Ah-h-h-h-h-h-h-h-h-h-h ah!
A spoonful of sugar helps the medicine go down
The medicine go down-wown
The medicine go down
Just a spoonful of sugar helps the medicine go down
In a most delightful way”

Um comentário:

Anônimo disse...

Amo mary poppins

Envelhecer é diferente de apodrecer

Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem? (Confúcio) Eu, com certeza, seria velha, em qualquer momento. Devo ter na...